Pivô da nova crise política brasileira e investigada pela Operação Lava Jato, a ‘JBS’ fez doações, por meio de políticos e partidos, para três campanhas eleitorais em cidades da região de Araçatuba em 2014. Todos concorriam a deputado estadual, mas nenhum foi eleito.
Ao todo, a empresa destinou R$ 60.042,50 às candidaturas de Cidinha Lacerda (PT), de Araçatuba; Charles Kobayashi (PRTB), de Andradina; e Roberto Rillo Bíscaro (PSD), de Penápolis. De acordo com o sistema de prestação de contas da eleição daquele ano, mantido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a campanha de Cidinha a uma vaga na Assembleia Legislativa recebeu R$ 47,5 mil, por meio da direção nacional do Partido dos Trabalhadores. A ex-secretária municipal de Assistência Social e Participação Cidadã, na gestão do ex-prefeito Cido Sério (PT), obteve, na ocasião, 27.986 votos.
A ‘OAS’, outra empresa envolvida nas apurações da Lava Jato, também fez doação para Cidinha. No município, a empreiteira foi dona da concessão dos serviços de água e esgoto, por meio da Samar (Soluções Ambientais de Araçatuba), que, depois, foi vendida à GS Inima, como parte do plano de recuperação judicial. A ‘OAS’ doou para a campanha da petista R$ 900 mil. A campanha de Cidinha recebeu, no total, R$ 2.498.423,15 em doações.
A menor fatia do montante desembolsado pela JBS na região foi para Kobayashi, que, em 2014, era vice-prefeito de Andradina, na gestão Jamil Ono (PT). A candidatura de Kobayashi para deputado recebeu apenas R$ 42,50 da JBS, por meio da campanha do deputado federal Walter Shindi Ioshi (PSD-SP). O ex-vice-prefeito, recebeu 15.794 votos. No total, a campanha dele teve receita de R$ 137.337,64.
Já Bíscaro concorreu ao deputado, na época, pelo PCdoB — aliado histórico do PT em eleições e governos. A campanha do professor recebeu da JBS R$ 12,5 mil, por meio do deputado federal Orlando Silva (PCdoB), que foi ministro do Esporte na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2014, Bíscaro teve 4.555 votos. Ao todo, sua campanha arrecadou R$ 39.798,62. Outra empresa investigada na Lava Jato que fez doações à sua candidatura foi a UTC: R$ 12,5 mil.
Bíscaro disse à reportagem que não sabia de onde vinha o dinheiro para sua campanha. “Tudo isso era passado aos candidatos pequenos pelos partidos. Sinceramente, nem sabia o que significava JBS até pouco tempo. Os candidatos menores, só para completar quadros, ficavam ‘boiando’. Só sei que não tenho um centavo no bolso que não seja meu”, afirmou Bíscaro.
Cidinha não quis comentar o assunto. Ela disse que as doações estão relacionadas com o partido. Kobayashi afirmou que não tinha condições falar sobre doações, uma vez que estava “correndo atrás de votos”. Ele diz que sua candidatura tinha o objetivo de mostrar que a região precisava de deputados. Ao saber do valor destinado pela JBS à sua campanha, Kobayashi comentou que isso não podia nem ser chamado de doação, mas de “desprezo”. Declarou: “Se não fosse Andradina, eles (JBS) não conseguiriam chegar aonde chegaram”. A JBS não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
Outras empresas investigadas na Lava Jato fizeram doações para candidaturas a deputado em 2014 na região, por meio de partidos políticos. A UTC destinou dinheiro para a campanha do ex-prefeito Wilson Borini (DEM), de Birigui. Já a Queiroz Galvão doou para a campanha do ex-vereador Luciano Gomes, enquanto a Andrade Gutierrez enviou recursos para o vereador Cido Saraiva (PMDB), de Araçatuba.
Deputados federais eleitos da região também receberam recursos da ‘JBS’, caso de Milton Monti de São Manoel, que recebeu R$400 mil; Walter Ihoshi de Marilia R$250 mil e Celso Nascimento de Bauru R$20 mil.
E ainda o deputado estadual Abelardo Camarinha, de Marilia, que recebeu R$53 mil.
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